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Deficiências do Magento no Brasil

deficiências do Magento - imagem: Buena Vista/Digital Vision

No mês de março, o Magento completou seis anos de sua primeira versão estável, a Community Edition 1.0. Como aquele antigo comercial, nesse tempo, “muita coisa mudou”, mas a essência continua a mesma: o Magento foi pensado como uma plataforma estável e robusta, mas com espaço para que desenvolvedores e empresas se baseassem nele, construíssem novos módulos, desenvolvessem novas funcionalidades e ajudassem empresas a ter suas lojas virtuais. E no Brasil? Como anda o mercado de Magento no Brasil e quais são as deficiências que rondam a plataforma, especialmente em terras tupiniquins?

Esse post não é propriamente um elogio ou um post otimista, mas eu ainda trabalho com Magento e ainda acho que a plataforma tem mais alguns anos de vida. No entanto, diversos problemas seguem sem solução e precisam ser, se não atacados, ao menos do conhecimento dos desenvolvedores e lojistas que querem ter sua loja em Magento pra que possam entender como utilizar corretamente a plataforma.

O Magento não é de graça

A base de todas as deficiências que o Magento enfrenta no Brasil está em um conceito que foi compreendido de maneira errônea: “o Magento é de graça” ou “não é preciso pagar pelo Magento”. Essa afirmação é totalmente fora da realidade, já que o que não se paga é pela licença de uso, ou seja, qualquer pessoa pode usar o Magento sem ter que pagar nada para a Magento Inc., dona da plataforma. Isso não significa que não seja necessário ter conhecimentos sobre lojas virtuais, instalação de sistemas web ou gerenciamento de servidores; não significa também que você não precisa ter um domínio ou que não gaste com manutenção do provedor ou com profissionais para fazer as atualizações e correções em sua loja.

Isso vai na mesma linha da “free beer” ou da cerveja open source. Se a cerveja é livre, quer dizer apenas que a fórmula da cerveja é conhecida e pode ser reproduzida por qualquer pessoa sem interferência do criador. Isso não quer dizer que a cerveja é de graça: quem quiser tomar a cerveja, terá que investir nos componentes e no processo de fabricação ou então, comprar a cerveja de um produtor – que não precisou investir em pesquisa e desenvolvimento e utilizou o trabalho de outra pessoa que por sua vontade resolveu distribuir a fórmula.

A falta de profissionais e empresas sérias

Já falei algumas vezes nesse blog sobre os profissionais em Magento (para ler outros posts, só buscar por profissionais Magento na caixa de busca) e infelizmente a situação não muda. Sigo recebendo questionamentos de lojistas que pagaram caro (às vezes até 10 mil reais) por serviços de “desenvolvimento de lojas virtuais” que nunca foram entregues e cujos profissionais não tinham feito uma loja Magento sequer.

Muitos desenvolvedores ainda seguem com o pensamento de simplesmente vender uma loja virtual para as empresas sem se preocupar se elas terão condições de gerenciar ou se o negócio é viável, restringindo-se a entregar um pacote padrão, muitas vezes sem qualquer conexão com o negócio em questão. Essa postura pode parecer vantajosa no momento – se o lojista quer uma loja, é obrigação dele saber se o negócio é bom ou não, diriam – mas todos perdem no longo prazo.

O brasileiro não tem cultura de planejamento e acha que fazer plano de negócios é perda de tempo. Com isso, milhares de reais são desperdiçados, já que ao invés de eles serem investidos e continuarem a girar a roda da economia, aquela empresa quebrará em poucos meses, deixando de gerar receita.

No começo de 2012, houve um movimento para a qualificação e certificação de empresas de Magento no Brasil. Naquela época, chegou-se a ter doze empresas certificadas, aptas a vender licenças da Enterprise Edition e preparadas para construir boas lojas em Magento. Isso seria seguido pela entrada efetiva da Magento Inc. no Brasil, que naufragou. O resultado atual é que a maioria delas deixou de ser certificada ou sequer está trabalhando com Magento e o Brasil continua com menos desenvolvedores certificados que a Bielorrússia.

Tropicalização

Seis anos depois e os lojistas ainda sofrem com lojas mal adaptadas ao mercado brasileiro e com a necessidade de diversos módulos para integração com serviços que existem apenas para atender a burocracia. O mesmo pode ser dito de módulos de integração a métodos de pagamento, que mesmo lançados por seus provedores como módulos oficiais, apresentam erros primários e mal funcionamento.

Provedores despreparados

A maioria dos provedores de hospedagem brasileiros  (não disse todos, eu disse a maioria) não está preparada para lidar com Magento. Isso acontece com base em dois fatores: o Magento precisa de recursos para rodar e os custos de hospedagem dedicada no Brasil são caros.

Uma loja pequena poderia utilizar uma hospedagem compartilhada sem problemas se os provedores não abusassem da quantidade de clientes em um mesmo espaço, o que faz com que o site não aguente e saia do ar ou fique muito lento. Se o cliente quiser passar para uma conta dedicada ou mesmo uma VPS, os custos acabam sendo proibitivos para uma empresa inicial. Daí, por economia (e falta de esclarecimento), o lojista prefere ficar com a loja deficiente mas com um custo fixo menor.

Os provedores também não investiram em suporte especializado em Magento. Alguns problemas são clássicos e poderiam ser resolvidos facilmente, com pequenos ajustes e otimizações. No entanto, a regra geral é que se quer rodar Magento, é preciso contratar um plano mais caro e resolver as dificuldades por conta própria.

A cultura do jeitinho

Por fim, a cultura do jeitinho também impera no e-commerce. O modelo open source pede que se devolvam as contribuições para a comunidade e que se respeite o trabalho dos outros. Aqui não acontece nem um, nem outro. Uma prova disso é que até hoje não temos uma versão customizada para o Brasil, que já “saia de fábrica” com os módulos e as adequações necessárias. Outro problema são os módulos e temas pirateados: seguidamente encontro temas sendo revendidos no Mercado Livre, sem que a licença dê essa possibilidade ou então módulos sendo utilizados várias vezes, por lojas diferentes.

O Magento é baseado no open source e nasceu como um projeto de uma empresa que queria compartilhar seus esforços com a comunidade e dela receber feedback, correções e melhorias. Aqui no Brasil, ele pegou como o “software de lojas gratuitas”, que é pesado, não tem profissionais e dá dor de cabeça. Dá pra mudar essa imagem mas até quando vamos esperar?

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