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A difícil vida de um empreendedor no Brasil

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Vida difícil de empreendedor no Brasil - imagem: Nice One Productions“Vou montar minha empresa e nunca mais terei que ser empregado de ninguém! Vida de dono de empresa é que é boa, empregado só se arrebenta”, substituindo a palavra arrebenta pelo termo que você preferir. Essa é a frase mais pronunciada quando somos empregados. Sempre achamos que o bom é ser o dono, que fica com todo o dinheiro.

Mas ninguém conta antes – e não sabemos prestar atenção nos detalhes – que isso está longe da realidade. Ser empreendedor é difícil em qualquer lugar do mundo. Você acumula responsabilidades com seus funcionários, clientes, com a sociedade. Passa a ter um sócio oculto que leva parte de seu dinheiro em prol do país (nada errado quanto a isso, é a obrigação dele). Passa a oferecer seus bens e sua liberdade em prol de um ser chamado organização.

Não, não quero martirizar os empreendedores nesse post. Não quero transformá-los em seres especiais que convivem com toda a sorte de dificuldades. Também não quero desencorajar os futuros empreendedores, ainda que quem faça treinamentos comigo muitas vezes saia com a impressão de que nunca mais vai querer abrir uma empresa na vida.

O ponto aqui é dismitificar alguns pontos que só descobrimos depois que passamos por duas ou três falências e que quando começamos nossa primeira empresa, sequer imaginamos que exista.

1) Você trabalhará mais do que antes

“Meu patrão é que tem uma vida boa, trabalha pouco e ganha muito dinheiro”. Esqueça essa ideia porque na imensa maioria dos casos, isso não corresponde à realidade. Quando você tiver uma empresa, não terá mais horários ou férias. Esqueça entrar às 8:30 e sair às 17:30. Esqueça horas extras se você trabalhar além desse horário. Esqueça fins de semana. Esqueça os 30 dias de férias remuneradas com adicional de um terço!

Você não terá mais horários, o que pode significar uma certa liberdade se precisar tirar uma tarde sem trabalhar ou fazer uma viagem curta em uma quinta e sexta-feiras. O ponto é: talvez você poderá fazer isso, talvez não. Quem mandará em seus horários será o mercado, essa instituição composta por um grupo particular de pessoas chamado clientes.

Se seu mercado permitir flexibilidade, você terá. Se seu mercado exigir que você trabalhe 12 horas por dia, você trabalhará. Se ele quiser que você o atenda aos fins de semana, assim será. Portanto, a regra geral é: a partir do momento em que você empreender, trabalhará mais do que quando era empregaodo.

2) Você não terá mais um salário fixo

No papel, você receberá um pro labore (normalmente, o valor de um salário mínimo) e sobre o qual você pagará 31% de INSS (11% da sua parte mais 20% da parte da empresa). Além disso, você pode tirar sua parte dos lucros (já líquidos de imposto de renda, pois eles foram pagos pela empresa).

Muito bonito na teoria! Na prática, você sabe qual será o seu salário na empresa? No começo, zero. Aos poucos, a partir do momento em que a empresa começar a se estabilizar, você pode começar a contar com o pro labore. Sò depois de um bom tempo é que você poderá começar a receber os lucros. Portanto, se você não está acostumado a não saber quanto ganhará, ser empreendedor não é pra você.

3) Você terá que pagar impostos desde o começo

O governo brasileiro (a União, seu estado e seu município) não lhe dará trégua por nem um dia sequer. O governo vai querer a parte dele – uma parte que não é pequena – desde o começo e você não terá incentivos enquanto não consegue se estabelecer. Além dele, uma série de entidades e associações tentarão pegar mais um pedaço de seu dinheiro enviando convites de adesão disfarçados de boletos.

Você não precisa pagar esses boletos nem se associar mas muitas vezes, mal informado, você gastará preciosos reais com coisas que não lhe tratão nenhum retorno, pensando que eram obrigações a cumprir.

4) O sistema tributário brasileiro é complicado

Se você ainda não sabe disso, lamento, você está totalmente despreparado. O ponto é: o sistema tributário brasileiro é ainda mais complicado do que pensamos antes de começar a lidar com ele de dentro. Existem inúmeros impostos federais mais os impostos estaduais (produtos) e municipais (serviços), com alíquotas e datas de pagamento diferentes.

Existe uma série de declarações mensais a fazer, que muitas vezes você fará para economizar com o contador. Existem prazos para enviar essas declarações sob pena de multas salgadas. Existem detalhes nas declarações que se você deixar passar, perderá um bom tempo no escritório da Receita Federal, apresentando documentos e mostrando que você não agiu de má-fé.

Alguns dirão que basta um bom contador para resolver isso mas a má notícia é: bons contadores custam caro e mesmo eles erram. O sistema tributário brasileiro muda tanto que até bons contadores ficam perdidos. Além disso, no começo da operação, esse custo pode significar a falência da empresa.

5) O Sebrae só poderá te ajudar no começo

Talvez eu vá comprar uma briga com o Sebrae, mas acho que vale a pena: eles só poderão te ajudar no começo, com as coisas básicas. E falo por experiência própria. Quando não se sabe nada, a ajuda deles é muito boa, com várias palestras e oficinas gratuitas. Quando se sabe um pouco, eles têm cursos a preços acessíveis. Quando você já tiver dominado o básico, eles não conseguirão te ajudar mais com consultorias e esclarecimentos.

6) Financiamento é caro

O financiamento é caríssimo no Brasil. Se você precisar de um empréstimo bancário, precisará de um negócio com um risco baíxissimo, que garanta que você tenha os resultados desejados e consiga pagar o financiamento e mais os juros. Se as coisas não derem tão certo assim, há grande chance de você afundar, apenas pagando os juros.

O acesso a outras fontes de financiamento é difícil e não apenas pela escassez de fundos de investimento e investidores anjo, mas também pelo despreparo do brasileiro, que acha que apenas uma ideia na cabeça já lhe garantirá crédito farto. Se você precisará contar com financiamento externo, seu plano de negócios tem que ser claro, conciso e específico, mostrando o que você fará com o dinheiro recebido e como retornará para o investidor.

7) Os incentivos são raros e complicados

Pra completar, não temos incentivos para que as empresas cresçam e apareçam. Você não terá uma isenção de impostos por um determinado período, uma retribuição por comprar determinado equipamento ou um suporte do governo para gestão. Em alguns casos muito específicos, você poderá se candidatar a ter acesso a fundos de desenvolvimento mas perceberá que as exigências são tantas que a maioria das empresas não terá acesso. Pra piorar, em muitos casos, você correrá o risco de ficar na mão de um fiscal que encontrará uma forma de recusar seu relatório, apenas em busca de um suborno (e que portanto, entrará como prejuízo em seu balanço além da dor de cabeça).

Voltando ao começo do post: eu incentivo o empreendedorismo e acho que é a melhor forma de mudar o país. Mas antes de você empreender, estude, planeje, entenda o ambiente em que você atuará. E jamais pense que é mais fácil ser empresário que empregado. Não queira descobrir isso da pior forma possível. Bons empreendimentos pra você!

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